Santa Rita de Extrema | Pais sim… amiguinhos não 

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Pais sim… amiguinhos não 

A paz e bem! Que todos estejam repletos da graça, é o meu desejo. Afinal a vida nos oferece o melhor a todo instante, contudo nem sempre entendemos e acolhemos essa oferta. Isso ocorre devido ao fato de não compreendermos de modo integral o processo de nosso existir. Às vezes pensamos que o que queremos é o melhor para nós. Mas nem sempre é. Pois nossa visão é limitada, alcança apenas a extensão que nossas retinas conseguem captar. Mas o que não podemos ver também está lá e de certo modo afeta nosso viver, quer nossa rota esteja em sua direção ou não. Isso porque no universo tudo está conectado. O Criador Celestial não fez nada desprovido de importância nesse complexo e lindo sistema ao qual tudo está inserido. Quando entendemos que cada coisa tem seu sentido de ser, fica mais fácil de encontrarmos a harmonia no lugar e tempo que estamos e no propósito que temos.

Pais sim… amiguinhos não 

Apesar das dificuldades ou sofrimentos, as coisas são enfrentadas de modo leve e com alegria. E a vida flui como um rio feliz em direção ao mar. Engana-se quem acha que o rio acaba no lugar chamado foz. Não, ele apenas se transforma em algo bem maior. Pois apesar de seu leito sumir, suas águas continuam a existir. Mas ao recusar a inteiro se entregar, acaba sendo leito sem água e vida. Por isso, meus caros, cumprir a própria missão existencial é o segredo para se realizar e transcender. Fazer nossa parte é a condição para paz possuir. Aproveitando o devaneio, apresento o tema de nossa reflexão. Falaremos sobre o sentido de ser pai e mãe e a responsabilidade dessa missão.

É lindo encontrar famílias que têm relações harmoniosas, organizadas e felizes. Onde há diálogo e respeito entre os entes. Fico feliz quando me deparo com essa realidade. O que me preocupa é que atualmente é comum vermos genitores, que no intuito de serem legais e compreensivos, desviam suas funções e se projetam apenas para o lugar de “amiguinhos” dos filhos.

Certa vez ouvi uma cliente dizer que ficava muito triste quando sua filha não partilhava certas coisas, pois, no seu modo de ver, uma mãe deveria ser sempre a melhor amiga da filha. Em outra ocasião, um pai relatou seu sofrimento por sentir que o filho preferia chamar os amigos para sair do que ficar em sua companhia. Também já atendi inúmeros pais que ficam inseguros ao agir, pois têm medo de perder o amor dos filhos e por isso acabam dando a eles toda a autonomia decisória sem jamais fazer nenhuma contestação ou imposição de limites.

Os pais têm a responsabilidade de zelar pelo bom desenvolvimento de cada filho. O foco principal nunca pode ser receber algum benefício, mas proporcionar o que for necessário para que cresçam e se tornem pessoas providas de boa índole e valores benignos. Quem não entende isso irá fracassar no exercício quase divino ao qual os pais são chamados.

Uma vez disse em uma palestra, que colocar limites é a forma mais dolorosa de amar. Pois exige que se tome decisões que irão deixar o outro triste conosco. Contudo, é uma ação necessária para o porvir da vida daquele ente amado. É preciso ter firmeza e saúde emocional para atingir tal meta. Os pais não podem abdicar da responsabilidade que têm em prol de serem vistos como super legais. Ou então querer serem adjetivados como colegas e parceiros dos filhos. Almejar apenas o lugar de “amiguinho” significa descer do posto mais alto e sublime, que é o de mãe ou pai, e se vestir de uma infantilidade patética, desprovida de beleza e honra.

Ter uma relação de amizade com os filhos é ótimo, porém esta não pode atrapalhar a funcionalidade paternal.  Ser exemplo, ser norte, ser suporte. Dizer não quando for o caso. Impor os limites. Ter firmeza sem perder a ternura. Fazer cobranças necessárias. Tudo isso só pode ser executado quando se está no lugar adequado na relação.

Quando os pais abandonam a autoridade para assumir a cumplicidade juvenil. A responsabilidade para viver certas aventuras. Ou ainda ser conivente com o mal feito por medo de perder o título de melhor “amiga ou amigo”. Essas posturas trazem consequências catastróficas para o futuro daquele ser amado. Pois não será protegido como deveria ter sido. Não se proporcionará à criança ou adolescente o crescimento necessário para se sustentar e suportar as dificuldades do mundo adulto.

Quando os pais são só amiguinhos dos filhos, não conseguem fazer as cobranças necessárias. Não terão voz nem vez para repreender e corrigir. Não poderão colocar os limites que são pertinentes. Não terão condições de exercer o papel para o qual existem. Ou seja, fazer o que for preciso para que seus descendentes cresçam e apareçam em felicidade, bondade e paz. A vida irá cobrar aqueles que não semeiam boas sementes. A ausência do bem plantado gerará frutos amargos e indigestos a serem colhidos.

O amor dos pais é bem maior que o dos amigos. Não que o destes seja pequeno, mas sim porque o daqueles é inigualável. Dentro do primeiro cabe o segundo, mas dentro do segundo jamais caberá o primeiro. Assim, que cada um de nós possamos compreender que paternidade não é uma ação de troca. Onde se oferta alguma coisa para receber outra. Ela é mais sublime. É um entregar-se para que o outro se construa e seja feliz. É não esperar a devolutiva. Mas estar no lugar de ser escada para o crescer do outro. O amor oferecido pelos pais não está relacionado a merecimentos dos filhos, mas sim a condição primeira que esse chamado traz.

Por fim, repito de modo veemente que ter amizade com os filhos é ótimo e necessário, mas reforço que nunca os pais conseguirão ocupar o lugar de “amiguinhos” sem abdicar do papel de pai ou mãe. E, aqueles que assim o fazem, não compreenderam a beleza e maravilha da missão recebida. Ser mãe e pai é ser além da vida. É perpetuar sua descendência e de certa forma também alcançar a eternidade carnal. É sobretudo ser fonte, leito e foz para o filho se tornar, nesta vida, mar de felicidade e realizações. Quem entende isso jamais terá a necessidade de querer algo diferente, além do respeito no olhar e gratidão na sonoridade das palavras mais importantes que da boca de um filho sai, quando com amor apenas diz: mãe ou pai.

 

Adilson Donizetti de Carvalho
Psicólogo – CRP 04/4041

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